O jornal mais antigo em circulação do Agreste Setentrional de Pernambuco

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Sentimentos atávicos

29/02/2016

Festejado em outubro de 2015, os setenta anos da fundadora do Colégio Estadual Ana Faustina de Souza Barbosa, na cidade de Surubim, homenagem que lhe prestara o grande político Nelson Barbosa, seu neto, meu tio, quando da sua fecunda gestão como prefeito do município, nomeado por seu amigo Agamenon Magalhães quando governador de Pernambuco. Anna Faustina, minha bisavó, bela e guerreira, cuja ancestralidade vinha dos longes da Península Ibérica, com o marido Bernardino de Souza Barbosa, meus bisavós. Ambos, na caminhada, somando juras de amor, trazem a linguagem dos Barbosa com vínculos de antecedentes flamengos. Corados, alongados, olhos azuis, o tempo que desencadeia distâncias, lugares e criaturas, fincaram raízes no século XIX, no povoado de Surubim, Agreste Setentrional de Pernambuco. Tiveram cinco filhos: Manuel, José (meu avô), Demóstenes, João Bernardino, Josefa Virgínia (filha do coração) e Maria Barbosa, única filha que trouxe pelo casamento o ramo Farias, formando com os Souza Barbosa uma grande família. Os primos da camaradagem ao casamento se multiplicaram.
Contava a minha avó Júlia de Castro Barbosa que nessa época, Surubim emergia de ermos caminhos insinuados pelas trilhas de carroça e de tropel de boiadas. Arruado de casas paredes-meias e candeeiros fumarentos. Caminhos invadidos por cangaceiros, chefiados pelo bandido Antônio Silvino, dispersando feiras livres à bala, judiando das pessoas, perseguindo senhores de engenhos, invadindo outros lugares da região.
Vem do século XIX a Igreja de São José, padroeiro da cidade, que a insensatez demoliria décadas depois. Os sinos como destinação dobravam finados, chamadas para novenas e missas. Aos sábados, rezava-se cantando o medieval Oficio à Imaculada Conceição. Época das Santas Missões com o Frei Damião de Bozano entre outros frades, pregando e impondo aos penitentes expiações cruciais.
Na sequência dos acontecimentos políticos, sociais, culturais, as mudanças foram chegando lentamente ao povoado. O ascetismo dominando os costumes e a firmação das famílias. A única Botica, aviando receitas do Formulário Chermoviz, do médico polonês – 1812-1881 – xaropes, pílulas, purgantes. Memórias que não são somente minhas. Somam-se as de muitos brasileiros. Rubem Braga, o sabiá da crônica brasileira, amigo de Mauro Mota e meu, traz esse resgate em sua crônica Memórias de um ajudante de farmácia: “Vontade de voltar à medicina antiga e comprar uma bisnaga do Bálsamo Tranquilo, que com esse nome até à alma deve fazer bem”.
Das mais antigas era a casa dos meus bisavós, Anna Faustina e Bernardino de Souza Barbosa. Na cumeeira louças e estátuas portuguesas. Hoje, chega a ser difícil resgatá-las. A casa não cheira mais a jasmins, está morta, como mortos estão os nascidos Barbosa, de sucessivas gerações. A grande cidade esconde os passos da menina que fui, no vai e vem, cursando o infantil no Colégio Nossa Senhora do Amparo.
Surubim é hoje uma cidade em expansão. Com o excelente Jornal Correio do Agreste (O jornal mais antigo em circulação do Agreste Setentrional de Pernambuco) assinala a primeira página, os setenta anos do Grupo Escolar Ana Faustina. Na página Opinião, o jovem surubinense Eduardo Alexandre Barbosa, ex-aluno e professor da mesma escola, escreve: “A Escola recebeu no último dia 13 de outubro a comunidade surubinense para as comemorações alusivas à data”. Com simbolismo e espiritualidade, junto-me aos Barbosa, próximos e distantes, para com júbilo louvar os 70 anos do Grupo Escolar Anna Faustina de Souza Barbosa.
PS.: Agradeço ao poeta e amigo Doddo Félix, de quem recebo exemplares do Jornal Correio do Agreste, com a página Panorama Bonjardinense assinada por ele.

MARLY MOTA 
Membro da Academia Pernambucana de Letras 
marlym@hotlink.com.br

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