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Espanto, louvor e adoração

29/02/2016
Sl 71               03.01.16

Carta aos Reis Magos

O tempo natalino nos coloca diante da vossa aventura na busca de Jesus apenas nascido: “Onde está o rei dos judeus que acaba de nascer? Vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo” (Mt 2,2).Essa visita será registrada apenas pelo evangelista Mateusque certamente tinha sua finalidade: alcançar o coração dos judeus para a novidade do Evangelho. Outra delegação chegou até o Menino antes de vós, aquela dos pastores: “Não temais, eis que vos anuncio uma boa-nova que será alegria para todo povo: hoje vos nasceu na cidade de Davi um Salvador, que é o Cristo Senhor”(Lc 2,10-11).De fato eles o encontraram deitado numa manjedoura ladeado por Maria e José (cf. Lc 2,16). Mateus registra que “Entrando na casa, acharam o menino com Maria, sua mãe” (Mt 2,11).
Eis dois grandes critérios e paradigmas da prática do Deus dos cristãos: escolheu os pastores que enquanto classe, não tinham boa fama, inclusive não podiam testemunhar nos tribunais; e, os gentios para fazer parte de seu povo porque como reconheceu Paulo, escrevendo aos efésios: “os pagãos são admitidos à mesma herança, são membros do corpo, são associados à mesma promessa em Jesus Cristo, por meio do evangelho”(Ef 3,6). Assim Deus revelou seu “mistério aos apóstolos e profetas” (Ef 3,5), na “plenitude dos tempos” (Gl 4,4).
A catequese da Igreja apostólica e pós apostólica insistiria na historicidade do nascimento do Filho de Deus entre os homens quando aponta que César Augusto era imperador romano e Quirino era governador na Síria (cf. Lc2,1-2). Paulo aos gálatas irá aprofundar, afirmando: “quando se completou o tempo previsto, Deus enviou seu Filho nascido de uma mulher, nascido sujeito à Lei, a fim de resgatar os que eram sujeitos à Lei e para que todos recebêssemos a filiação adotiva” (Ef 3, 4-5).
Recordo-me que o Prefácio da missa da Epifania: “Quando Cristo se manifestou em nossa carne mortal, vós nos transfigurastes na luz eterna de sua divindade”. Por isso Paulo escrevendo a seu discípulo Tito pode declarar: “manifestou-se a bondade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor pelos homens” (Tt 3,4). A possibilidade da parte dos pastores de ali se achegar, causou aos mesmos espanto e louvor (cf. Lc 2,17-18.20).
Vossa visita será traduzida pelos estudiosos da bíblia como a abertura ao enviado de Deus a todos os povos: “As nações se encaminharão à tua luz, e os reis, ao brilho de tua aurora. Levanta os olhos e olha à tua volta: todos os se reúnem para vir a Ti; teus filhos chegam de longe, e tuas filhas são transportadas à garupa” (Is66,3-4). O salmista também dirá: “Todos os reis hão de adorá-lo, hão de servi-lo todas as nações” (71,11).
Testemunha eloquente disso é a afirmação de Simeão no Templo de Jerusalém: “Agora Senhor podeis deixar vosso servo ir em paz segundo a vossa palavra. Porque os meus olhos viram a salvação que preparastes diante de todos os povos, como luz para iluminar as nações, e para a glória de vosso povo de Israel” (Lc 2,29-31).      
A bíblia vai chamar os senhores de “magos” e em seguida vos veremos como “reis”. Lendo os textos sagrados não é difícil concluir que isso está relacionado a Isaías (60,3) e ao Salmo 72,10ss). Mas,quanto éreis mesmo? Qual seria vossa origem? A bíblia não fala de númeroporém de três presentes: ouro, incenso e mirra o que leva a pensar que éreis três. A Tradição vos dará até nome: Baltazar, Belchior (Melquior) e Gaspar. Trata-se de um texto considerado apócrifo denominado Evangelho Amênio da Infância de Jesusescrito na metade do VI século, se falade três Magos se referindo o rei dos persas, Melquior; o rei dos indianos, Gaspar e o rei dos árabes, Baltazar.
No texto bíblico nada consta disso pois nem fala de quantidade, e sim da categoria (Mt 2,1). Naquela época na área oriental do Império romano circulava em toda parte astrólogos, advinhões, charlatões denominados de “caldeus”. Portanto a origem seria da Mesopotânia. Entre tantos desonestos existiam os sérios tidos como astrólogos –sacerdotes que estudavam a vinda do Defensor-Salvador-Vencedor. Mas há quem ligue sua origem aos persas que também eram estudiosos dos astros.
Em Ravena, Deus me deu a alegria de contemplar na igreja de santo Apolinário um belo conjunto de mosaicos onde se pode ver os três Magos como sendo os representantes dos continentes então conhecidos, Europa, Ásia e África; os três categoria do mundo, os sacerdotes, os guerreiros e os produtores; os três momentos da existência humana, a juventude, a maturidade e velhice como também os três aspectos do tempo, isto é, o passado, o presente e o futuro.
Uma tradição antiga que data do período entre o século IV e o VI afirma que vossas relíquias que estavam depositadas em Milão na igreja de santo Eustogio. Contudo com a força do Império alemão que se fortalecera e com a invasão que ocorreu naquela cidade, Reinaldo de Dasse, arcebispo de Colônia teria levado para seu país iniciando-se assim uma série de peregrinação. Na catedral daquela cidade existe um belo sarcófago em sua homenagem.
Vós representastes os povos pagãos em busca do Deus verdadeiro. Isso vem nos recordar que a fome de Deus é presente em cada homem e em cada mulher que vem a esse mundo. Chegastes aJerusalém guiados por uma estrela. No antigo Testamento, o povo eleito percorreu sua estrada rumo à Terra Prometida guiados por uma nuvem durante o dia e uma bola de fogo durante a noite. Jesus veio para nos orientar na direção. Ele é “o caminho” que Ele conduz (cf. Jo 16,6); quem vê Jesus, vê o Pai ;quem permanece no seu amor permanece no amor do Pai (cf. Jo 14,10-11).
Era rei naquela região Herodes (Mt 2,1). Esse ficou obviamente espantado, o texto diz mais: “perturbado” com tal noticia trazida por vós (cf. Mt 2,3). E por isso vos recomendou de que ao encontrarem-no fossem dizer-lhe a fim que também ele pudesse adorá-lo (Mt 2,7-9) após ter consultado seus sábios, príncipes dos sacerdotes e escribas para que lhe dissessem algo sobre o nascimento do Cristo. Esses lhes responderam que seria em Belém segundo a profecia de Miquéias: “E tu, terra de Judá, não és de modo algum a menor entre as cidades de Judá, porque de ti sairá o chefe que governará Israel, meu povo” (5,2).
Interessante em tudo isso é que no final do seu texto, Mateus afirma que realizaste uma verdadeira adoração àquele menino (cf. Mt 2,11). Além disso, fostes alertados em sonho para não voltarem a Herodes e sim tomar um “outro caminho” (Lc 2,12). Fico a pensar quantas lições poderíamos tirar de tudo isso! No mínimo que devemos buscar o Deus verdadeiro. A experiência da rainha de Sabá que buscou o rei Salomão é para nós um referencial para buscar a sabedoria. Deus é sabedoria infinita e enche todo o universo (Sb 1,6-7).É tempo de questionar sobre as coisas que nos impedem de viver plenamente o Evangelho! Poderíamos nos perguntar também sobre os caminhos que tomamos para chegar à verdade! Cada dia é sempre uma possibilidade para retomarmos o caminho para o bem, a justiça e a paz!

Pe. LIMACÊDO ANTONIO DA SILVA
Pároco da Paróquia do Divino Espírito Santo – Paudalho
limacedo@libero.it

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